Mercado de dados - O quanto valemos na internet?
- Melanie Martins
- 14 de nov. de 2019
- 3 min de leitura

Nome, idade, endereço e telefone. As informações pessoais que são registradas nos sites e redes sociais movimentam um mercado bilionário que tem como base a compra e venda do que fica arquivado na web. Os dados são usados em vários setores diferentes e, por isso, a sua proteção é, a cada dia, um debate mais presente na sociedade.
O Fórum Econômico Mundial, em 2011, elevou os dados à categoria de ativos econômicos valiosos. Não por acaso, Amazon, Apple e Google apareceram no top três do relatório “Brand Finance 500 2019”, que classifica anualmente as 500 marcas mais valiosas do mundo, publicado pela empresa Brand Finance no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
Essas marcas participam ativamente no mercado de dados e lucram com a monetização desse material. Aliás, conforme pesquisa da International Data Corporation (IDC), estima-se que esse setor movimente cerca de US$200 bilhões apenas em 2019. Entretanto, a compra e venda de informações também acontece de forma ilegal.
De acordo com uma pesquisa realizada pela TOP10VPN em janeiro de 2018, custaria cerca de US$1.200 para hackear toda sua identidade online. Esse valor equivale a aproximadamente R$4.980 e inclui senhas de todo tipo de site, desde redes sociais e contas bancárias a serviços de entrega e de entretenimento, como Netflix e Spotify. A partir das senhas, as informações pessoais dos usuários ficam vulneráveis, podendo ser roubadas e vendidas, por exemplo, na deep web, onde rastrear os usuários é mais difícil. Só no Brasil, no primeiro semestre de 2018, cerca de 120,7 milhões de ataques cibernéticos foram registrados de acordo com o 4º Relatório de Segurança Digital no Brasil feito pelo laboratório PSafe.
O valor dos dados os torna um produto muito procurado, fazendo com que a ação de hackers não seja uma questão exclusiva de um ou dois países. De acordo com Breach Level, índice da companhia especialista em segurança digital, Gemalto, 46 bilhões de arquivos foram acessados indevidamente ou furtados no mundo todo apenas no primeiro semestre de 2018. É como se, por segundo, 291 dados fossem hackeados. Além disso, ainda segundo o levantamento, 56% dessas informações foram furtadas de redes sociais.
Outro ponto que chama a atenção é a falta de precauções por parte das empresas responsáveis pelo armazenamento de dados. Apesar de a maior parte desses vazamentos serem fruto de uma invasão maliciosa, 34% deles aconteceu por conta de acidentes e falhas de segurança. O documento também mostra que menos de 3% eram “vazamentos seguros”, ou seja, casos que eram protegidos, por exemplo, pela criptografia, um método que faz com que os dados furtados não sejam entendidos.
Esses números mostram o quanto a internet hoje não é um lugar seguro. Além de métodos de proteção já existentes não serem amplamente usados, as próprias empresas participam desse mercado ilegal, não respeitando o direito dos usuários à privacidade. Hoje, Apple, Facebook, Google e Youtube já foram denunciados por terem vendido informações pessoais sem autorização. No caso do Facebook, esses dados, como mostra o documentário “Privacidade Hackeada”, da Netflix, foram usados para influenciar a eleição presidencial americana de 2016 e a campanha a favor do BREXIT, ambas pela ação da empresa Cambrige Analytics.
Graças a esse histórico, os governos têm se mobilizado em prol de regulamentar esse meio e promover a proteção das informações pessoais. Planejada para entrar em vigor em 2020 no Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados tem o intuito de garantir aos titulares um maior controle sobre o processamento de suas informações pessoais. Ela estabelece diversos direitos com o objetivo de cobrar mais transparência das empresas. Essa lei chega como uma atualização do Marco Civil da Internet, criado em 2014. Além do Brasil, a UE e os EUA pensam em caminhos para regulamentação.
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